Áudio e apresentações do 96º disponíveis para download

O encontro de Ute Craemer, Clara Charf e Nina Rosa no 96º fórum do Comitê da Cultura de Paz, realizado dia 8 de maio, foi histórico, para dizer o mínimo. Cada uma delas é um verdadeiro luminar nas áreas em que atuam, exemplos de que o ser e o estar no mundo podem ser dignificados nas práticas inclusivas e de acolhimento dos direitos humanos e dos direitos dos animais.

A íntegra do áudio e das apresentações já está disponível para download, sob a licença Creative Commons, que permite a disseminação gratuita para estudo e divulgação, desde que citada a fonte, mas não para a fragmentação e inserção em outras obras.

A seguir, o texto de introdução do fórum, da jornalista Elisabete Santana.

"Boa noite! Sejam muito bem-vindos ao 96º fórum do Comitê da Cultura de Paz, coordenado pela Associação Palas Athena em parceria com a UNESCO.

13 anos atrás, um grupo de pessoas, movimentos e instituições percebeu a importância de disseminar certos 6 princípios – aparentemente óbvios mas que, até então, não estavam claros para a maioria de nós: Respeitar a vida; Rejeitar a violência; Ser generoso; Ouvir para compreender; Preservar o Planeta e Redescobrir a solidariedade.

Estes 6 compromissos foram enumerados por laureados com o Prêmio Nobel da Paz, em 1998, durante as celebrações do 50º aniversário da Declaração dos Direitos Humanos, e reunidos no Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e Não-violência, que introduziu a Década Internacional para uma Cultura de Paz e Não-violência, 2001-2010.

O Comitê é diretamente responsável pela grande mobilização em torno do Manifesto. Só no estado de SP, conseguimos angariar cerca de 500 mil compromissos com aqueles 6 princípios, em papel, porque realmente não temos condições de mensurar o quanto este trabalho se propagou por meios eletrônicos. No Brasil, foram quase 14 milhões de assinaturas, e no mundo, algo próximo a 70 milhões.

Desde então, o Comitê vem trabalhando sem interrupção e avança no que se iniciou ao longo da Década Internacional para uma Cultura de Paz. Nesses 13 anos de atividades, o Comitê inspirou e embasou muitas iniciativas em todos os cantos do país, desde fóruns como este, cursos, oficinas, seminários, programas institucionais, até conselhos de Cultura de Paz ligados aos Poderes Legislativo e Executivo.

Reconhecidos internacionalmente, os trabalhos do Comitê representam hoje a mais concreta e complexa atividade embasada nos 8 eixos da Declaração e Programa de Ação para uma Cultura de Paz. São eles:

Cultura de Paz através da Educação; Economia Sustentável e Desenvolvimento Social; Compromisso com Todos os Direitos Humanos; Equidade entre Gêneros; Participação Democrática; Compreensão – Tolerância – Solidariedade; Comunicação Participativa e Livre Fluxo de Informações e Conhecimento; e Paz e Segurança Internacional.

O detalhamento dos 8 eixos está no site do Comitê da Cultura de Paz [www.comitepaz.org.br], que hoje representa um marco em nosso idioma quanto a documentos internacionais de referência, artigos e textos de apoio, bibliografia, cartilhas temáticas e áudios dos fóruns realizados em todos esses anos.

O Comitê também se inseriu na blogosfera e nas redes sociais: além da página no Facebook, nosso blog – comitedaculturadepaz.blogspot.com – se propõe a ser uma vitrine interativa das ações que vêm se realizando pelo país e pelo mundo orientadas pelos 8 eixos do Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz. A construção e alimentação permanente do blog se dão graças ao apoio de uma empresária que frequenta os fóruns e percebeu a necessidade e urgência de dar visibilidade a iniciativas desta natureza, a quem agradecemos a generosidade.

Agradecemos também a todos os voluntários que direta e indiretamente contribuem para a realização dos fóruns, e ao Masp, nas pessoas de Débora Lauand e Cristina Lacerda, pela gentil cessão deste auditório.

A experiência é a matéria prima deste 96º fórum, com três pioneiras que, há décadas, influenciam milhares de pessoas, comunidades e instituições. Cada uma delas cultivou uma trajetória que oferece fundamentação teórica multidisciplinar e prática inclusiva voltada para todos, isto é, que não requer estruturas físicas ou legais para viabilizar o engajamento, nem certificações formais para contribuir com o talento e a singularidade que caracteriza a cada um.

Suas ações revelam a dignidade das causas que promovem, sem deixar de assinalar e questionar o individualismo, a indiferença, a acomodação e a resignação, que perpetuam modelos de ser e estar no mundo geradores de sofrimento, exclusão e injustiças. Como demonstram as suas obras, a indignação, para ter capacidade mobilizadora, tem de avançar propositivamente e sugerir vias de reparação — uma dinâmica de amadurecimento social que renova a autoconfiança pessoal e coletiva no exemplo vivo das palestrantes deste 96º Fórum.

Ute Craemer – professora Waldorf, chegou ao Brasil em 1965 com o propósito de servir como educadora voluntária em Londrina, Paraná. Anos mais tarde, já em São Paulo, assume uma vaga para lecionar na Escola Waldorf Rudolf Steiner e, paralelamente, começa a cuidar de crianças pedintes que se abrigavam na sua casa – nasce assim, em 1979, a Associação Comunitária Monte Azul ao lado da favela de mesmo nome, que lhe deu reconhecimento mundial. Em 2001 fundou junto a outras pessoas o capítulo brasileiro da Aliança pela Infância. É autora de vários livros, entre os quais: Favela Kinder; Favela Monte Azul; Crianças entre Luz e Sombras; Girassol – conto de Natal.

Clara Charf – desde 1946, quando teve seu registro de trabalho de comissária de bordo cassado, dedica-se a muitas lutas. Passou boa parte da vida na clandestinidade, outra parte como exilada, participou de protestos contra a bomba atômica e contra o envio de soldados brasileiros para a Guerra da Coréia, entre outros. Integra a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos e também atua no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, vinculado à Secretaria Especial de Políticas para Mulheres da Presidência da República. Em 2008 funda em São Paulo a Associação Mulheres pela Paz e, em março de 2012, ganha a Medalha Ruth Cardoso outorgada pelo Governo de São Paulo.Também cria o Espaço Cultural Carlos Marighella, para preservar a memória de seu companheiro de vida.

Nina Rosa Jacob – ativista pela defesa dos direitos dos animais desde 1994. Em 2000, fundou o Instituto Nina Rosa – projetos por amor à vida, uma organização independente que trabalha pela valorização da vida animal por meio da educação de valores. Defende a educação e a coragem de fazer o bem como principais ferramentas para a formação de uma sociedade mais justa e pacífica. Além do desenvolvimento de materiais educativos, entre os quais se destaca um vídeo chamado Fulaninho, o cão que ninguém queria, visto por mais de 400 mil crianças do ensino fundamental, o Instituto Nina Rosa ministra cursos de capacitação em educação em valores para educadores.

Agradecemos profundamente a oportunidade de partilhar as vivências e experiências destas três estrelas da vida social e comunitária do Brasil."

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